Orgonomia: Conectando Mente, Corpo e Energia

Por José Henrique Volpi

Discutir a Orgonomia, ciência que conecta mente, corpo e energia, é como reabrir uma ferida antiga na história da ciência. Não se trata de um campo neutro. É controverso, audacioso e profundamente humano. Desenvolvida por Wilhelm Reich, médico, psicanalista e rebelde por natureza, a orgonomia transcende a definição de simples teoria; é uma perspectiva de mundo que entende corpo, mente e energia como partes indissolúveis.

Mas por que Reich foi perseguido, ridicularizado e até preso? Por que o governo dos EUA queimou seus livros na década de 1950? E por que, até hoje, muitos profissionais da psicologia se surpreendem ao saber que ele trabalhava diretamente com o corpo de seus pacientes?

Neste artigo, vamos explorar como Reich rompeu com a psicanálise convencional, desenvolveu técnicas como a análise do caráter e a vegetoterapia, e sustentou a existência da energia orgone — a força vital que permeia o universo — e por que tudo isso desafia o paradigma científico atual.

Quem foi Wilhelm Reich e o nascimento da orgonomia

Wilhelm Reich (1897–1957) foi um seguidor direto de Freud, mas logo se distanciou da ortodoxia ao destacar o papel fundamental da energia sexual na saúde emocional. Criou a Economia Sexual, que defende que a repressão do desejo sexual — ou “potência orgástica bloqueada” — é a raiz das neuroses.

Por essas ideias, Reich foi atacado por todos os lados, chamado de “judeu pornográfico” e excluído das instituições psicanalíticas. No entanto, continuou sua pesquisa, aprofundando a orgonomia — a ciência que integra corpo, mente e energia para compreender a saúde e a doença.

Da análise do caráter à vegetoterapia: corpo e mente em diálogo

Reich foi pioneiro ao questionar o modelo tradicional da psicanálise, que separa corpo e mente. Criou a Análise do Caráter, técnica onde terapeuta e paciente interagem de frente, rompendo com o silêncio e a passividade do divã.

Observando a linguagem corporal, Reich percebeu que defesas psíquicas manifestam-se como tensões musculares, formando uma “couraça muscular”. Assim, desenvolveu a Vegetoterapia, que utiliza respiração, movimento e toque para liberar essas tensões — estabelecendo a base da orgonomia como ciência da conexão mente-corpo-energia.

O toque como tabu ou uma ferramenta de cura?

Imediatamente, o escândalo foi instantâneo quando Reich começou a tocar o corpo de seus pacientes. E, acredite: ainda hoje, é frequente ouvir psicólogos e estudantes questionando com espanto:

“Mas o psicólogo pode tocar o paciente?”

Essa questão evidencia a diferença entre o modelo convencional de psicoterapia, que distingue corpo e mente, e a perspectiva reichiana, que os considera um sistema único e integrado.

Na vegetoterapia, o toque é funcional e energético, não sendo invasivo nem erótico. Ajuda a desbloquear tensões, ativar a respiração e liberar emoções reprimidas. É um toque que ouve o corpo quando a mente não consegue mais narrar a história.

Atualmente, a ciência confirma que o toque ativa o sistema nervoso parassimpático, diminui os níveis de cortisol, fortalece o sistema imunológico e auxilia na recuperação da confiança em si mesmo e nos outros, especialmente em situações de trauma.

A energia orgone: Reich transcende o corpo

Com o progresso de suas investigações clínicas e experimentais, Reich chegou a uma conclusão que marcaria seu lugar na história da ciência: ele estava convencido de ter encontrado uma energia vital primordial, que permeia todos os seres vivos e todo o cosmos.

Ele a denominou de energia orgone.

De acordo com Reich, essa energia era perceptível em experimentos de laboratório, mensurável por seus efeitos e acumulável em aparelhos por ele construídos. Ele desenvolveu o conhecido Acumulador de Orgone, uma espécie de câmara que, de acordo com suas afirmações, melhorava a vitalidade, acelerava processos de cura e até contribuía para tratamentos de várias doenças, dentre elas o câncer.

O conceito de uma energia vital não era inédito — ele existe no Chi da medicina chinesa, no Prana do yoga e no Mana polinésio. Porém, Reich queria ir além: tentou comprovar essa energia de forma científica, com base empírica e experimental.

E foi precisamente isso que o tornou alvo de críticas.

O cerco a Reich e a supressão da orgonomia

Reich não era um místico. Ele foi um cientista. Porém, sua perspectiva científica quebrava com o modelo mecanicista e reducionista que prevalece no pensamento ocidental. Ele se referia a uma ciência vibrante, dinâmica, conectada ao ritmo da natureza — algo inaceitável para as instituições científicas daquele período.

Eventualmente, em 1954, após anos de perseguição, o governo dos Estados Unidos decretou a destruição de todos os livros e dispositivos de orgone.

Reich foi encarcerado por “desobediência à autoridade” da FDA (Food and Drug Administration), a agência americana de alimentos e medicamentos, e faleceu na prisão dois anos depois.

Por que Wilhelm Reich ainda provoca desconforto?

Quebrou obstáculos que muitos profissionais ainda relutam em atravessar.
Também afirmou, sem pedir permissão, que o corpo sente o que a mente omite.
Além disso, sugeriu que a liberação da energia vital é o ponto de partida da cura emocional.
Por fim, nos lembrou que a vida pulsa — e que a função da terapia é restaurar esse pulso no ser humano.

Quando a verdade é inconveniente para a Ciência

Wilhelm Reich não foi apenas um psicanalista à frente do seu tempo — foi um visionário que uniu ciência, corpo, sexualidade e energia em uma proposta radical de cura. Não o silenciaram por falta de provas, mas por medo do que ele revelava sobre nós mesmos.

A orgonomia permanece como um campo marginalizado, com poucos estudos e ainda menos práticas. No entanto, ela continua viva em cada terapeuta corporal, em cada profissional que toca com ética e em cada pessoa que entende que cura não é apenas uma palavra, mas também respiração, movimento e energia.

Atuar a partir de uma abordagem corporal reichiana não exige, necessariamente, tocar o corpo — mas sim escutá-lo com seriedade e presença. É reconhecer que, onde a mente cala, o corpo fala. Que o que foi sufocado em palavras, permanece vivo nas tensões, na dor, nas doenças… e na ausência de vitalidade.

A escuta do corpo é um gesto clínico e político. É um compromisso com a vida pulsante que resiste por trás das couraças. E talvez, mais do que nunca, seja tempo de escutar — porque o corpo… ainda grita.