A Experiência dos Bions em Wilhelm Reich

A Experiência dos Bíons em Wilhelm Reich: Investigações sobre Vida, Energia e Matéria

José Henrique Volpi

Resumo
Wilhelm Reich conduziu uma série de experimentos com matéria orgânica e inorgânica em decomposição, identificando vesículas microscópicas que chamou de bions. De acordo com ele, esses bions eram formas de transição entre o não-vivo e o vivo e estavam ligados à energia orgone. Este artigo revisita os estudos de Reich sobre os bions, contextualiza historicamente as pesquisas, analisa a perspectiva atual da ciência sobre o fenômeno e discute os desafios metodológicos e epistemológicos que esses estudos levantaram. Por último, considera-se o legado deste estudo para a psicologia corporal e para a compreensão da energia vital.

Palavras-chave: bions. energia orgone. biogênese. Wilhelm Reich. psicologia corporal.


1. Introdução

Wilhelm Reich, psicanalista austríaco, expandiu sua pesquisa além da psicoterapia ao investigar uma “energia vital” universal, chamada de orgone, e fenômenos microscópicos relacionados às suas implicações biológicas. Um grande volume desse trabalho experimental foi dedicado a estudos dos bions (vesículas microscópicas que surgem em matéria em decomposição). Este artigo tem como objetivo analisar essas pesquisas sob a perspectiva histórica e científica atual, além de discutir seus possíveis efeitos na psicologia corporal.


2. Os Bions segundo Reich

Reich (1979) descreveu que, ao expor materiais orgânicos (como palha, terra, carvão) ou inorgânicos (como areia, ferro) a processos de aquecimento, tratamento com água, autoclave e congelamento, formavam-se pequenas vesículas que ele chamou de bions. Em documentações fotográficas e cinematográficas, essas vesículas exibiam um brilho azulado, pulsação de expansão e contração, motilidade e, em certas situações, transformação em protozoários — fenômenos que Reich observou em preparações que afirmava serem estéreis.

Reich (1979) sustentava que esses bions não eram bactérias ou organismos reconhecidos, mas sim “formas de transição” entre a matéria inanimada e a vida, carregando um “quântico” de energia orgone.

Particularmente no que se refere ao “Experimento XX”, ele detalhou a criação de bions a partir de uma solução de água purificada, denominada “bion-water”.

que havia sido filtrada, autoclavada e congelada, afirmando que esse processo demonstrava “biogênese primária” sob determinadas condições. (Reich, 1973)

Em contato com esses preparos, objetos metálicos ou luvas ficavam “energizados” a ponto de registrar cargas eletrostáticas ou movimento, fenômenos que Reich (1979) interpretava como manifestações palpáveis da energia orgone.

3. Contexto Histórico e Metodológico

As investigações de Reich foram conduzidas entre meados da década de 1930 e início da década de 1940, época em que os padrões experimentais, os controles microbiológicos e as técnicas de microscopia eram consideravelmente mais restritos do que os padrões contemporâneos. Reich operava frequentemente à margem da comunidade científica convencional, seus recursos eram limitados e seus métodos experimentais foram criticados por não serem replicáveis ou por não apresentarem controle de contaminação.

Ademais, cabe ressaltar que o aparato teórico de Reich – que integrava o corpo, a sexualidade, a energia vital e a biologia – estava em oposição ao paradigma dominante da biologia microbiológica e à psicanálise ortodoxa. Isso resultou em difamação de sua obra principalmente pelos psicanalistas da época e em restrições à publicação e ao reconhecimento científico de suas descobertas. Foi quando Reich criou sua própria editora para tornar público e replicáveis todos os seus experimentos. Mesmo assim, a comunidade dita “científica” continuou marginalizando seus trabalhos sem sequer dar o trabalho de verificar sua veracidade. É o que acontece até hoje.


4. O olhar da ciência contemporânea

Os fenômenos descritos por Reich são vistos com ceticismo pela biologia moderna. As explicações mais tradicionais indicam que as vesículas observadas poderiam ser micelas, microbolhas, partículas coloidais ou artefatos de microscopia, e que os efeitos eletrostáticos poderiam resultar de cargas estáticas ou processos físico-químicos já conhecidos.
Contudo, alguns pesquisadores retomam linhas de pesquisa relacionadas, como James DeMeo (2011), que estudou fenômenos de água estruturada, energia plasmática ou “bio-energética” em ambientes controlados, referindo-se ao legado reichiano.
Portanto, mesmo que a hipótese da orgone como uma energia distinta não seja reconhecida pela ciência convencional, persiste o interesse em explorar fenômenos de interação corpo-energia-ambiente por meio de novas perspectivas.


5. Implicações para a Psicologia Corporal

Na psicologia corporal, o estudo dos bions e da energia orgone simboliza a ligação entre corpo, emoção e energia vital. Embora os métodos científicos convencionais não validem completamente a abordagem de Reich, ela incentivou reflexões sobre corporeidade, subjetividade, bloqueios musculares, respiração, tensão emocional e processo terapêutico.
A ideia reichiana de que o corpo “armazena” tensões e que a liberação desse bloqueio envolve a mobilização de energia vital se alinha com as terapias somáticas atuais e com as pesquisas em neurociência afetiva.


6. Conclusão

Ao estudar os bions e a energia orgone, Wilhelm Reich fez um esforço único para unir vida, matéria e energia em uma perspectiva unificada. Apesar de seus resultados e métodos serem considerados controversos, seu legado é significativo para a psicologia corporal e para a discussão sobre a energia vital no corpo humano. A ciência atual não comprova completamente a hipótese da biogênese a partir de matéria inanimada ou de uma “energia distinta” mensurável, porém o interesse por processos que ligam corpo, emoção e energia continua vivo.


Referências

DE MEO, James. Water as a Resonant Medium for Unusual External Environmental Factors. Water, v. 3, p. 1-47, 2011. 

REICH, Wilhelm. The Bion Experiments on the Origin of Life. Farrar, Straus & Giroux, New York, 1979. 

REICH, Wilhelm. The Cancer Biopathy: The Discovery of the Orgone. Vol. II. Farrar, Straus & Giroux, New York, 1973. 

WILCOX, Roger M. A Skeptical Scrutiny of the Works and Theories of Wilhelm Reich. 2013. 

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