Terapia Corporal Reichiana: o que é, benefícios e como funciona

TERAPIA CORPORAL REICHIANA: O QUE É E COMO FUNCIONA

José Henrique Volpi (1)

Resumo: A Terapia Corporal Reichiana, desenvolvida a partir das teorias de Wilhelm Reich, propõe a integração entre corpo, mente e emoção como caminho para a autorregulação psíquica e o equilíbrio energético. Fundamentada em princípios da psicodinâmica, fisiologia e neurociência contemporânea, essa abordagem compreende que tensões crônicas no corpo refletem bloqueios emocionais. O presente artigo tem como objetivo apresentar os fundamentos científicos da Terapia Reichiana e discutir sua eficácia à luz das evidências atuais sobre corpo, emoção e sistema nervoso autônomo.

Palavras-chave: psicologia corporal; terapia reichiana; Wilhelm Reich; couraça muscular; neurociência e emoções.

Introdução

A Terapia Corporal Reichiana é uma abordagem psicoterapêutica que integra corpo e mente em um mesmo processo terapêutico. Originada das ideias de Wilhelm Reich (1897–1957), discípulo de Freud, essa vertente parte da premissa de que os processos psíquicos se expressam no corpo por meio de padrões musculares, respiratórios e posturais (REICH, 1975).

Reich observou que emoções reprimidas produzem tensões crônicas, denominadas “couraças musculares”, que bloqueiam a livre circulação da energia vital e interferem no fluxo emocional. Assim, a terapia corporal busca liberar essas tensões, promovendo a autorregulação orgânica e emocional.

Atualmente, os fundamentos reichianos encontram respaldo em estudos da neurociência afetiva e da psicologia somática, que comprovam a interação direta entre estados corporais e emocionais (DAMASIO, 2018; PORGES, 2011).


O conceito de couraça muscular

Segundo Reich (1975), a couraça muscular é a expressão corporal das defesas psicológicas. Cada segmento do corpo acumula tensões específicas associadas a conflitos emocionais e experiências infantis. A liberação dessas tensões facilita o contato com sentimentos autênticos e a retomada da vitalidade.

Pesquisas modernas em psicofisiologia e neurociência reforçam a hipótese reichiana, demonstrando que o corpo responde de forma mensurável a estados emocionais. A ativação prolongada do sistema nervoso simpático, por exemplo, está associada a padrões crônicos de tensão muscular e estresse (CRITCHLEY; HARRISON, 2013).

2.2 Corpo, emoção e cérebro

A teoria polivagal de Stephen Porges (2011) e os estudos de Antonio Damasio (2018) oferecem bases biológicas sólidas para compreender os efeitos terapêuticos da abordagem reichiana. Ambos demonstram que as emoções são respostas corporais integradas a circuitos neuronais, e que o relaxamento físico promove estados de segurança emocional.

Técnicas reichianas, como respiração profunda, movimentos expressivos e percepção corporal, estimulam o nervo vago e a regulação parassimpática, contribuindo para a redução do estresse e a melhora da autorregulação emocional (KOK et al., 2013).


Como funciona a Terapia Corporal Reichiana

A Terapia Reichiana atua em dois níveis principais:

  1. Nível corporal: por meio de exercícios de respiração, alongamento e pressão suave em regiões de tensão, o terapeuta estimula a percepção e a liberação das couraças musculares (LOWEN, 2007).

  2. Nível emocional e psíquico: ao liberar tensões, emergem conteúdos inconscientes — sentimentos reprimidos, lembranças e emoções — que são elaborados de forma consciente e segura dentro do processo terapêutico.

Ao longo da sessão de terapia corporal reichiana, além do trabalho analítico sobre o conteúdo verbal que o paciente traz, o profissional vai percebendo a necessidade de trabalhar com o corpo a fim de aliviar as tensões que esses conteúdos provocam. Com base na leitura corporal, o terapeuta identifica bloqueios respiratórios, posturais e musculares que refletem defesas emocionais inconscientes, promovendo intervenções sutis — como exercícios de respiração, alongamento segmentar e toques conscientes — que facilitam a liberação dessas couraças energéticas. Esse processo permite que emoções reprimidas possam ser reconhecidas, expressas e integradas de forma segura e gradual. Dessa forma, a energia vital volta a circular com mais liberdade, promovendo sensação de alívio, ampliação da consciência corporal e equilíbrio psicossomático. Essa integração corpo-emoção produz mudanças perceptíveis: respiração mais livre, maior vitalidade, diminuição da ansiedade e reconexão com afetos genuínos (NAVARRO, 1995; MÜLLER; JÜRGES, 2020).


Evidências científicas e aplicações clínicas

A Terapia Corporal Reichiana compartilha fundamentos com outras abordagens somáticas modernas, como a Bioenergética (LOWEN, 2007) e o Somatic Experiencing (LEVINE, 2010). Pesquisas recentes indicam que terapias corporais reduzem sintomas de ansiedade, depressão e trauma (ANDERSON et al., 2018; KOENIG et al., 2021).

Estudos com medidas fisiológicas demonstram que práticas corporais aumentam a variabilidade da frequência cardíaca — um marcador de regulação autonômica e resiliência emocional (KOK et al., 2013; PORGES, 2011).

Dessa forma, a Terapia Reichiana se configura como uma abordagem baseada em evidências que articula teoria psicanalítica, fisiologia e neurociência.


Conclusão

A Terapia Corporal Reichiana é uma abordagem psicoterapêutica que considera o corpo como via de acesso à psique. Seu método, centrado na liberação de couraças musculares e no restabelecimento da autorregulação emocional, encontra respaldo nas descobertas contemporâneas sobre a interdependência entre corpo, emoção e cérebro.

Com bases clínicas e científicas crescentes, a terapia reichiana consolida-se como um campo relevante dentro da psicologia corporal baseada em evidências, oferecendo recursos eficazes para o tratamento de distúrbios emocionais, psicossomáticos e de estresse crônico.


Referências

ANDERSON, C. L. et al. Somatic Experiencing for Posttraumatic Stress Disorder: A Randomized Controlled Outcome Study. Traumatology, v. 24, n. 3, p. 191–200, 2018.

CRITCHLEY, H. D.; HARRISON, N. A. Visceral influences on brain and behavior. Neuron, v. 77, p. 624–638, 2013.

DAMASIO, A. A estranha ordem das coisas: As origens biológicas dos sentimentos e da cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

KOK, B. E. et al. How positive emotions build physical health: Perceived positive social connections account for the upward spiral between positive emotions and vagal tone. Psychological Science, v. 24, n. 7, p. 1123–1132, 2013.

KOENIG, J. et al. Body-oriented therapies for anxiety and depression: A meta-analytic review. Journal of Psychosomatic Research, v. 141, p. 110347, 2021.

LEVINE, P. In an Unspoken Voice: How the Body Releases Trauma and Restores Goodness. Berkeley: North Atlantic Books, 2010.

LOWEN, A. Bioenergetics. New York: Penguin, 2007.

MÜLLER, K.; JÜRGES, H. Effects of Bioenergetic Analysis on Emotional Well-Being: A Controlled Study. Clinical Psychology & Psychotherapy, v. 27, n. 5, p. 675–684, 2020.

NAVARRO, F. Caracterología pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995.

PORGES, S. W. The Polyvagal Theory: Neurophysiological Foundations of Emotions, Attachment, Communication, and Self-regulation. New York: Norton, 2011.

REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1975.

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(1) José Henrique Volpi – Psicólogo (CRP-08-3685), Especialista em Psicologia Clínica, Anátomo-Fisiologia, Hipnose Ericksoniana, Psicodrama e Brainspotting. Psicoterapeuta Corporal Reichiano, Analista psico-corporal Reichiano formado com o Dr. Federico Navarro (Vegetoterapia e Orgonoterapia). Especialista em Acupuntura clássica e Método Ryodoraku (eletrodiagnóstico computadorizado de medição da energia dos meridianos do corpo). Mestre em Psicologia da Saúde. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. volpi@centroreichiano.com.br

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Curso gratuito com certificado

https://centroreichiano.com.br/courses/terapia-corporal-reichiana/

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