PSICOTERAPIA CORPORAL REICHIANA ASSOCIADA AO MÉTODO RYODORAKU E À ACUPUNTURA – UMA PRÁTICA INTEGRATIVA

Prof. Dr. José Henrique Volpi

A psicoterapia corporal reichiana tem como proposta tratar do paciente de forma holística e sistêmica, buscando um entendimento integral dos sintomas neuróticos, dos traços de caráter, das couraças e da energia de forma geral.  Para isso fazemos uso das técnicas da análise do caráter, da vegetoterapia e, no nosso caso, associamos essas técnicas ao método Ryodoraku e à acupuntura de forma a termos um trabalho mais profundo e completo entre mente, corpo e energia.

Resumidamente, o tratamento que utilizamos acontece da seguinte forma: 

Análise do Caráter

Inicialmente ouvimos as queixas e dificuldades do paciente para compreendermos sua problemática. Para isso, fazemos uso da técnica da análise do caráter, para identificar os traços de caráter neurótico mais marcante na sua dinâmica de comportamento do paciente. A leitura corporal também nos auxilia nessa técnica onde por meio do corpo também identificamos os traços de caráter.  

A técnica da análise do caráter foi desenvolvida por Wilhelm Reich como forma de completar uma importante lacuna negligenciada pela psicanálise de Freud que mais se preocupava em analisar o sintoma do que a dinâmica de funcionamento do paciente, ou seja, o caráter. Um estudo mais profundo a respeito das tipologias de caráter foi feito por Federico Navarro, médico italiano de muito respeito, a quem tive a honra de ser aluno, paciente por muitos anos. Usamos a leitura de Navarro e Reich somadas à nossa experiência para definirmos as tipologias de caráter e seus funcionamentos.

De forma breve e resumida, as tipologias de caráter que consideramos são:

1 – Núcleo Psicótico – quando o estresse acontece durante a gestação (rejeição, doenças, drogas, estresse emocional, etc), parto (fórceps, cesariana, etc) e primeiros dias de vida (afastamento da mãe).  Resumidamente a pessoa tem um comportamento mais esquivo, evitando contatos, um grau de fantasia e misticismo um tanto que acentuado, dificuldade de ter “foco”, ou seja, clareza na comunicação, nos objetivos…

2 – Borderline – quando o estresse ocorreu durante a amamentação (sem qualidade, pouco tempo ou em excesso) e desmame (brusco) que deveria ocorrer por volta do nono mês de vida. Resumidamente a pessoa apresenta uma dependência afetiva de outras pessoas, é possessivo, ciumento, emburra-se com facilidade, etc.

3 – Psiconeurótico – é dividido em 3 classificações porque depende da forma como a criança foi educada na época.

3.1. Masoquista – quando o estresse ocorreu durante a fase anal que é o período do controle dos esfíncteres, retirada das fraldas e o treino ao toalete. O estresse é devido a uma educação severa que coloca a criança numa posição de humilhação. Resumidamente a pessoa funciona com base no sofrimento e dificuldades em tudo o que faz.

3.2. Obsessivo-compulsivo – quando o estresse ocorreu durante a fase anal que é o período do controle dos esfíncteres, retirada das fraldas e o treino ao toalete. O estresse é devido a uma educação moralista firmada com base em regras. Resumidamente a pessoa funciona com base no medo de errar, perfeccionismo, limpeza, etc.

3.3. Passivo-Feminino / Agressivo-masculino – quando o estresse ocorreu ao final da fase anal e início da fase fálica que é o período da descoberta dos genitais. O estresse é devido a uma identificação simbiótica do filho homem com a mãe que nesse caso é austera e um relacionamento de forma submissa e passiva com o pai que é agressivo. Se for a filha mulher, a identificação se dá com o pai. Resumidamente o filho homem funciona com base no comportamento frágil, dócil, servil e a filha mulher com base na masculinidade agressiva de forma dura e rústica buscando se assemelhar ao pai.

4 – Neurótico – é dividido em 2 classificações porque depende da forma como a criança foi educada na época.

4.1. Fálico-narcisista – quando o estresse ocorreu durante a fase fálica, chamada por Volpi e Volpi (2006) de etapa de identificação, que é o período da descoberta dos genitais. O estresse é devido ao medo da castração. Resumidamente o indivíduo de caráter narcisista é arrogante, ar soberbo, dono da verdade e sempre busca estar acima de todos.

4.2. Histérico – quando o estresse ocorreu ao final da fase fálica e início da fase genital, chamada por Volpi e Volpi (2006) de etapa de estruturação do caráter, que é o período da descoberta do prazer proporcionado pelos genitais (masturbação). O estresse é devido ao medo da entrega, que faz a pessoa regredir da fase genital para a fase fálica. Resumidamente o indivíduo de caráter histérico funciona com base no comportamento sedutor, mas com uma profunda ansiedade e evitação do sexo. Usa a sedução para se defender quando em uma situação de perigo do Ego. Atitude mais inquieta, agitada e irritadiça.

5. Genital – esse termo foi utilizado por Reich como ponto de referência para uma tipologia de caráter saudável. O desenvolvimento infantil ocorreu de forma tranquila, sem grandes estresses permitindo a energia circular livremente pelo corpo, sem bloqueios. São pessoas tranquilas e equilibradas, que apresentam uma grande empatia com os outros e com a natureza.

Na análise do caráter é sempre importante considerar os diferentes graus de comprometimento que podem variar entre leve, moderado e severo. Além do mais, dificilmente teremos apenas um tipo de caráter, mas podemos ter vários. Logicamente teremos àquele que é mais primitivo e que por sua vez é mais comprometedor e os demais traços que conforme Navarro os chamam, são coberturas caracterológicas, que surgem como defesas do próprio traço de caráter primitivo.

Vegetoterapia Caracteroanalítica

Além da análise do caráter, que é uma forma de terapia puramente verbal, também utilizamos a técnica da Vegetoterapia Caracteroanalítica. O nome é decorrente de sistema nervoso neurovegetativo (simpático e parassimpático).

Reich descobriu que todos os conflitos emocionais que perturbam a mente também são registrados no corpo em forma de armadura, couraças, situação mantida pelo sistema nervoso simpático. A couraça é a contração da musculatura que aprisiona a energia e a emoção e com isso, mantém a neurose. Portanto, é importante dentro da psicoterapia de base corporal trabalharmos tanto a análise do caráter do paciente quanto a flexibilização das couraças. Essa metodologia, a pedido do próprio Reich foi desenvolvida por Federico Navarro numa sequencia de exercícios que são movimentos leves e sutis que o paciente executa durante a sessão de terapia. Cada exercício tem um tempo específico sendo que ao final, atuamos com a parte verbal sempre questionando o paciente sobre suas sensações corporais e as lembranças. Muitas vezes esses movimentos, que chamamos de Actings, são gatilhos que desencadeiam lembranças de situações traumáticas. Quando isso acontece, entra novamente a parte verbal da terapia, segundo a análise do caráter.

A proposta da vegetoterapia Caracteroanalítica é repetir por diversas vezes o mesmo movimento (acting) até que haja uma flexibilização da couraça. O trabalho é feito da cabeça (segmento ocular) em direção aos pés (segmento pélvico) levando sempre em consideração o mapeamento emocional do corpo feito por Reich:

1 – Segmento ocular: corresponde à pele, região dos olhos, ouvido e nariz. É o segmento que retém o medo principalmente ligado ao contato. O bloqueio desse segmento responde pelo aparecimento do pânico, fobias, doenças de pele, etc.

2 – Segmento oral: corresponde à boca e anexos. É o segmento que nos coloca em situação emocional de dependência afetiva dos outros. O bloqueio desse segmento responde pelo sentimento de posse, ciúmes, raiva, bruxismo, obesidade, etc.

3 – Segmento cervical: corresponde ao pescoço e anexos. É o segmento do moralismo e controle. A rigidez do pescoço é a mesma que a pessoa tem na vida. O bloqueio desse segmento responde pela falta de humildade, rigidez e tensão na vida, o que provoca a hipertensão, problemas de tireoide – hiper ou hipotireoidismo, etc.

4 – Segmento torácico: corresponde ao peito e anexos. É o segmento do afeto ligado ao amor é ódio. O bloqueio desse segmento responde pela falta de humanidade, ambivalência, arrogância, etc. Um tórax rígido permite que as emoções também sejam expressadas de forma rígida, sem afeto, sem vida.

5 – Segmento diafragmático: corresponde ao diafragma e anexos. É o segmento ligado ao masoquismo e à ansiedade. O bloqueio desse segmento responde pela ansiedade e masoquismos decorrentes do medo do castigo, onde tudo é feito com base no sofrimento, tendência a lastimar-se constantemente, além de impedir o livre fluxo de energia para o corpo todo, uma função essencial à vida.

6 – Segmento abdominal: corresponde ao abdômen e anexos. É o segmento ligado à impulsividade e ao controle no sentido retentivo. O bloqueio desse segmento responde pela avareza, pelos traços obsessivos, impulsividade, etc. O bloqueio desse segmento provoca o aparecimento de problemas relacionados ao intestino como colites, diverticulites, problemas renais, etc.

7 – Segmento pélvico: corresponde os músculos da bacia e anexos. É o segmento ligado à entrega e ao prazer ao sexo e à vida. O bloqueio desse segmento responde pela negação da sexualidade e pelo superego. Isso provoca questões como frigidez, ejaculação precoce e diversos outros problemas ligados à sexualidade.

A vegetoterapia é aplicada com o paciente deitado no divã. Começamos com a massagem reichiana que é feita com um toque leve, firme e específico nos segmentos de couraça para identificarmos as couraças em cada um dos segmentos. Tendo claro o diagnóstico dos bloqueios energéticos, prosseguimos com a aplicação da técnica da vegetoterapia, numa sequencia de movimentos (Actings), começando pelo segmento ocular. Nesse primeiro segmento fazemos uso de uma luz indireta sobre os olhos a fim de flexibilizar a couraça.

Os movimentos (Actings) são aplicados em conjunto (pacote) e por isso, muitas vezes é repetido o mesmo pacote durante algumas sessões até que a couraça se flexibilize. Ao final da aplicação de cada movimento (acting), passamos para a terapia verbal para analisar as sensações e as possíveis lembranças que surgiram enquanto o paciente estava executando o movimento.

A proposta da técnica é aplicar todos os pacotes, em todos os segmentos. Por isso é que a sessão de terapia corporal reichiana exige um tempo maior. Em média trabalhamos de 1h a 1h e 15 minutos em cada sessão que pode ser semanal ou quinzenal. A duração do tratamento logicamente irá depender de cada pessoa.

Ryodoraku e Acupuntura

 A Terapia Ryodoraku do Sistema Nervoso Autônomo é uma metodologia terapêutica de eletrodiagnóstico que, por meio de um aparelho mede pontos específicos do corpo para identificar o nível de bioenergia em cada meridiano (canais de energia) da pessoa.  

No meu trabalho como terapeuta corporal reichiano, sempre inicio a sessão medindo os canais de energia que irá me dar um gráfico computadorizado. A partir do resultado do gráfico, executo o tratamento com agulhas de acupuntura para dar organizar a energia do meridiano que estiver desequilibrada. Para pacientes que não gostam de agulhas, costumo usar auriculoterapia (agulhas, sementes, cristais, esferas) ou eletroacupuntura (estímulo elétrico sem agulhas). Junto a isso vou fazendo a terapia verbal pela análise do caráter e aplicando os actings  da vegetoterapia.

Na sessão seguinte, fazemos novamente a medição pelo Ryodoraku e comparamos o gráfico anterior para avaliarmos a evolução do tratamento.

É importante considerar que a terapia corporal reichiana é uma terapia que atua sempre nas questões da mente, do corpo e da energia. Por isso a junção dessas técnicas permite um trabalho mais rápido e profundo.

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