O corpo explica muita coisa. Ele mostra o estado de espírito em que estamos, as tensões acumuladas e as couraças formadas ao longo da vida. Mas tudo isso são apenas fragmentos de um caminho muito mais amplo que Wilhelm Reich, criador da Psicoterapia Corporal, nos apresentou — caminho esse seguido por outros estudiosos, como Alexander Lowen, com a Análise Bioenergética.

Por isso, cuidado com o que aprende, como aprende e com o que faz com isso. O que se vê hoje em dia é preocupante: pessoas que se dizem profissionais (mas não são) vendendo cursos e mais cursos, prometendo resultados rápidos e ganhos financeiros, como se a leitura corporal fosse uma fórmula mágica. Isso é perigoso, porque transforma um conhecimento profundo e transformador em uma ferramenta rasa, desprovida de ética e de respeito pelo ser humano.

O corpo é, sim, um elemento fundamental dentro de um processo terapêutico, seja na psicoterapia corporal, na psicologia organizacional, na psicologia criminal ou em entrevistas clínicas. Ele fala o que a mente muitas vezes tenta esconder. Mas é justamente aí que entra o papel de um profissional qualificado, com formação específica, capaz de somar a leitura corporal a outros recursos e assim desenvolver um trabalho realmente efetivo e ético.

Não se engane: ler um livro ou fazer um cursinho rápido sobre o tema não o torna apto a interpretar corpos ou traços de caráter. Alguns acreditam que sim — e saem por aí “vendendo” consultorias e interpretações, sem base teórica nem preparo técnico. Isso, na prática, é uma manifestação do próprio traço de caráter psicopático, como apontam Reich e Navarro: pessoas que se sentem aptas sem realmente estarem, e que acabam reproduzindo erros graves que prejudicam a imagem da psicoterapia corporal e confundem o público.

Durante décadas, profissionais sérios e comprometidos trabalharam arduamente para limpar a imagem dessa prática, tantas vezes distorcida pela atuação irresponsável de alguns. E, infelizmente, hoje vemos isso se repetir, com a explosão de cursos e manuais prometendo “ensinar a ler o corpo” em poucas horas.
Como pesquisador e profissional dedicado há mais de trinta anos à Psicoterapia Corporal, sinto o dever de alertar quem se interessa pelo tema: não caia na armadilha da superficialidade. Interpretar o corpo é um trabalho delicado, que envolve teoria, experiência clínica e, acima de tudo, ética. Dizer a alguém o que ela “é” ou o que “deve fazer” apenas olhando seu corpo é uma atitude irresponsável e reducionista. Isso equivale a comprar um almanaque de interpretação dos sonhos e sair por aí montando uma “tenda” para vender significados.

Se você realmente quer aprender sobre a leitura corporal, busque uma formação séria e reconhecida, no Brasil ou no exterior. Só assim poderá compreender de fato o que é um traço de caráter, como ele se forma, de que modo se manifesta no corpo e como pode ser trabalhado dentro de um processo terapêutico consistente.

Em nosso site — centroreichiano.com.br — há diversos artigos escritos por profissionais respeitados e comprometidos com a ciência e a ética reichiana. Leia, estude, aprofunde-se. Aprender é um processo contínuo, e no campo da Psicoterapia Corporal, exige dedicação e responsabilidade.

Como dizia Wilhelm Reich:

“Amor, trabalho e conhecimento são as fontes de nossas vidas.
Deveriam também governá-la.”

____________________

(1) José Henrique Volpi – Psicólogo (CRP-08-3685), Especialista em Psicologia Clínica, Anátomo-Fisiologia, Hipnose Ericksoniana, Psicodrama e Brainspotting. Psicoterapeuta Corporal Reichiano, Analista psico-corporal Reichiano formado com o Dr. Federico Navarro (Vegetoterapia e Orgonoterapia). Especialista em Acupuntura clássica e Método Ryodoraku (eletrodiagnóstico computadorizado de medição da energia dos meridianos do corpo). Mestre em Psicologia da Saúde. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. volpi@centroreichiano.com.br