DESENVOLVIMENTO DO TRAÇO DE CARÁTER NÚCLEO PSICÓTICO
Aline Vespa dos Santos (1)
José Henrique Volpi (2)
RESUMO
Nossos traços caracterológicos estão intimamente relacionados com nossa experiência gestacional e principalmente com os primeiros anos de vida. O traço de caráter chamado de núcleo psicótico se desenvolve na fase embrionária, etapa chamada de Sustentação, a partir de algum tipo de estresse relevante, podendo ocorrer até os três primeiros meses da gestação. Sendo encontrado em aproximadamente 30% da população, o indivíduo núcleo psicótico carrega particularidades estruturais no corpo, mente e comportamento, além de um potencial explosivo, conhecido como “surto”. A proposta deste trabalho é apresentar o desenvolvimento do núcleo psicótico, a partir do período intrauterino, apresentando sua tipologia e estrutura segundo autores da psicologia corporal.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Navarro. Núcleo Psicótico. Reich. Sustentação.
Publicado em: 17/01/2024
Páginas: 8 – 12
[Versão em PDF]
[Versão em HTML]
O núcleo psicótico é considerado um traço de caráter que está próximo da psicose. Apesar de não fazer uso exato desse termo, Reich (1998) aponta que bloqueios energéticos podem acontecer durante a gestação ou no parto, determinando traços de caráter como a psicose e a esquizofrenia.
A partir da caracterologia pós-reichiana, Federico Navarro (1996) reconheceu que a psique pode ter um desenvolvimento fisiológico alterado por estresses intrauterinos, que atuam de formas diferentes na composição de cada indivíduo e seus traços caracteriais, sendo que uma caracterialidade pode se sobrepor a outra, até mesmo para protegê-la, devido aos efeitos desses estresses. Então, raramente encontraremos uma pessoa somente com um traço caracterológico.
Para relacionar os bloqueios energéticos de cada fase do desenvolvimento humano com os traços de caráter, Volpi & Volpi (2008) descrevem cinco etapas do desenvolvimento que estão ligadas a quatro condições psicológicas. Estas são marcadas pelo estresse acometido em cada uma das seguintes fixações energéticas-emocionais:
1) Sustentação (fixação embrionária, fetal ou neonatal)
2) Incorporação (fixação oral)
3) Produção (fixação anal)
4) Identificação (fixação genital)
5) Estruturação do caráter (sem fixação)
O foco deste trabalho é apresentar o núcleo psicótico como condição psicótica correspondente à etapa de Sustentação, com fixação na gestação, parto e primeiro mês de vida do indivíduo, período onde o estresse acometido à genitora, segundo Reich (1998) pode se dar em forma de rejeição, medo, fórceps ou abandono. De fato, quando há uma certa carência de maternagem que pode ser percebida de forma energética pelo bebê, acarretará uma alteração do funcionamento biofísico interno, como veremos adiante.
A etapa de Sustentação é caracterizada pelo momento mais energético da gestação, estando o bebê com a sua energia livre e inteiramente voltada para seu desenvolvimento e acolhimento materno. Segundo Volpi (2022) é uma etapa de sobrevivência física e emocional que ainda se divide em três fases: segmentação, embrionária e fetal.
Os autores descrevem que as causas de origem de um núcleo psicótico remetem à organogênese (desenvolvimento embrionário), que acontece no período intra uterino a partir dos folhetos germinativos, que são as camadas de células que originam nossos tecidos e órgãos. Como seres triblásticos, fazem parte da nossa formação os tecidos do ectoderma, mesoderma e endoderma.
É especificamente na neurulação (formação do tubo neural), no ectoderma que corresponde, no mapeamento corporal, à formação do próprio feto, olhos, ouvidos, nariz, pele e o sistema nervoso central.
A ocorrência do estresse gestacional na fase supracitada gera alterações relacionais, no olhar e no sentir. Modula-se desde a evitação do olho no olho, relacionamento interpessoal distante e superficial, até a aversão ao toque (VOLPI, 2022). Há também uma contração ocorrida da base do cérebro que é descrita como “hipertonia crônica das paredes musculares das artérias basilares, localizada no polígono de Willis” (REICH, 1998) que poderia influenciar a formação do núcleo psicótico.
A partir desta condição gestacional, é formado um estado somático cauteloso, onde o indivíduo convive com uma maneira limitada de perceber o mundo, a realidade e ”terá uma tendência ao isolamento marcante, grau de misticismo e fantasia acentuados, erros de interpretação, etc.” (VOLPI, 2022, p.06).
As ilusões são consequência de alterações das vias sensoriais, notadamente, de ordem visual e auditiva, compreendidas como parte do distúrbio da percepção-apercepção, sendo que “Cada sintoma é sempre um mecanismo de defesa do organismo!” (NAVARRO, 1996, p.33).
Em situações de maior gravidade, o indivíduo tem pouca identificação com o próprio corpo, uma mente com pensamentos confusos ou sombrios e passa a preferir a razão à emoção.
Navarro (1995) também faz uma divisão entre os núcleos psicóticos que se diferenciam quanto ao período em que o estresse aconteceu, predispondo a formação dos seguintes traços caracteriais:
– Embrionário (concepção até 2 meses de gestação) – Psicose / Autismo;
– Fetal (3 meses de gestação até o nascimento) – Núcleo Psicótico Esquizofrênico;
– Nascimento até 10 dias de vida – Núcleo Psicótico Paranóico;
– Nascimento até 3 meses de vida – Núcleo Psicótico Melancólico;
– 3 meses de vida até o desmame 9 meses – Núcleo Psicótico Depressivo.
CORPO E MENTE DO NÚCLEO PSICÓTICO
Segundo Navarro (1995), a pessoa que possui o núcleo psicótico tende a ter um corpo físico geralmente magro e “murcho” energeticamente, com mais ocorrências de alergias, dermatites e outros problemas de pele. Geralmente são pessoas mais “rígidas”, sem vida ou brilho.
O pescoço mais tenso e olhar vazio/vago, sem muito contato ou desviante
também demonstram o enorme medo da morte que trazem em sua experiência de vida, traduzindo-se também em ansiedade. Como há muita energia emergindo do cérebro reptiliano, é comum possuírem grande agitação e adrenalina, canalizando muitas vezes na busca por drogas psicoativas/alucinógenas, alimentando sua distorção da percepção, dificuldade associativa e perda da auto-consciência dos limites físicos.
Caracterizado por uma grave “carência do eu”, o núcleo psicótico busca modificar-se ou até mesmo desconfigurar-se através dos piercings, implantes e tatuagens, criando assim coberturas de um “eu-ego”, para se manter em sua válida e própria existência (NAVARRO, 1996 apud VOLPI 2022).
Com pouco movimento torácico, bloqueio diafragmático e às vezes catalepsia, é caracterizado em seu terreno energético uma condição hiporgonótica desorgonótica, ou seja, com baixa energia.
Devemos considerar que os comprometimentos do corpo também afetam a mente. Um Núcleo Psicótico geralmente possui um relato confuso, sem ordem nem sequência lógica, traz informações desencontradas e às vezes não consegue aprofundar no assunto. Tem certo ar de desconfiança o que o torna uma pessoa mais reservada.
Segundo Volpi (2022) uma condição psicótica, a partir do nascimento, seguirá junto com a condição Borderline, isso significa que havendo um estresse em ambas as condições, teremos o desenvolvimento do que Navarro (1996) chamou de Duplo Núcleo Psicótico, que também determina a formação da psique, com diferentes aspectos dependentes do desenvolvimento psico afetivo do indivíduo. Além do “medo da morte” (núcleo psicótico intrauterino), o núcleo psicótico neonatal (borderline) traz o “medo de não poder sobreviver”.
É importante e pontual ressaltar que, ao longo da vida, o núcleo psicótico carrega consigo um potencial “explosivo” que não está imune ao estresse, por isso quando o indivíduo não tem recursos internos e condições de lidar com determinada situação, pode-se desencadear o estresse primário (uterino), levando ao episódio chamado de surto psicótico (VOLPI, 2008) ou uma síndrome esquizofrênica, caracterizada segundo Navarro (1995, p. 42) como: “uma cisão da psique em várias partes.”
Neste caso, quando o indivíduo é acometido por uma crise, é comum a presença de alucinações (cinco sentidos), delírios (lúcidos ou confusos) e dificuldade de contato ou comunicação, pois a falta de conexão com a parte límbica do cérebro faz com que o neocórtex e o cérebro reptiliano funcionem de forma independente, dificultando o contato com a realidade. A situação pode ser apaziguada por uma estratégia de psicofármacos e posterior acompanhamento complementar e integrado, identificando gatilhos e prevenindo futuras crises.
Em casos graves, a internação hospitalar com medicamentos antipsicóticos ajudam a reduzir os sintomas psicóticos, enquanto a terapia psicossocial visa ajudar o indivíduo a lidar com os sintomas, melhorar o funcionamento social e fornecer suporte emocional. É importante procurar ajuda médica especializada e seguir o tratamento recomendado para melhorar os sintomas e prevenir recaídas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se nasce portando uma estrutura energética psicótica, não torna-se exatamente um indivíduo psicótico. É necessário considerar o grau de intensidade do estresse envolvido, podendo este ser leve, moderado ou grave, o que impactará diretamente no padrão de comportamento do indivíduo e seu tratamento.
O acompanhamento pode ser aprofundado através de um olhar amoroso, cuidadoso e presente da própria mãe. Quanto à vegetoterapia, permitirá devolver um “eu” normal ao indivíduo, pelo processo principal de maternagem, como fonte e expressão de segurança e vínculo (Volpi, 2022).
Por isso, a metodologia da análise reichiana faz uso de um projeto terapêutico, que é individual para cada paciente, onde o terapeuta irá levantar os pontos fracos para poder ajudar o paciente a fortalecê-los e ajudar, ou superar, os sintomas e crises.
REFERÊNCIAS
NAVARRO, F. Caracterologia pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995.
NAVARRO, F. Somatopsicopatologia. São Paulo, 1996.
NAVARRO, F. A somatopsicodinâmica, São Paulo, 1995.
NAVARRO, F. Caracterologia pós-reichiana. São Paulo , Sumus, 1995 Volpi, José Henrique. Psicodinâmica caracterológica do Psiconeurótico. In: Volpi, J. H, S. M.(org.) Apostila do curso de Especialização em Psicologia Corporal. módulo 1, Aula 3. Curitiba.
REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
VOLPI. J. H.; VOLPI, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional segundo a Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2008.
VOLPI, José Henrique. Psicodinâmica caracterológica do Núcleo Psicótico. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. (Org.) Apostila do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Módulo 1, Unidade 3. Curitiba: Centro Reichiano, 2022.
VOLPI, José Henrique. Tipologias de caráter segundo a análise reichiana. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. (Org.) Apostila do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Módulo 1, Unidade 2. Curitiba: Centro Reichiano, 2022.
DESENVOLVIMENTO DO TRAÇO DE CARÁTER NÚCLEO PSICÓTICO
Aline Vespa dos Santos (1)
José Henrique Volpi (2)
RESUMO
Nossos traços caracterológicos estão intimamente relacionados com nossa experiência gestacional e principalmente com os primeiros anos de vida. O traço de caráter chamado de núcleo psicótico se desenvolve na fase embrionária, etapa chamada de Sustentação, a partir de algum tipo de estresse relevante, podendo ocorrer até os três primeiros meses da gestação. Sendo encontrado em aproximadamente 30% da população, o indivíduo núcleo psicótico carrega particularidades estruturais no corpo, mente e comportamento, além de um potencial explosivo, conhecido como “surto”. A proposta deste trabalho é apresentar o desenvolvimento do núcleo psicótico, a partir do período intrauterino, apresentando sua tipologia e estrutura segundo autores da psicologia corporal.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Navarro. Núcleo Psicótico. Reich. Sustentação.
Publicado em: 17/01/2024
Páginas: 8 – 12
BATISTA, M. R.; VOLPI, J. H. Ejaculação precoce em homens fálicos narcisistas: uma perspectiva psicocorporal. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. (orgs.). Revista Científica Eletrônica de Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, v. 26, p. 3–10, 2025. ISSN 3086-1438. Disponível em: https://centroreichiano.com.br/revista-cientifica-eletronica-de-psicologia-corporal-vol-26-ano-2025/. Acesso em: _____.